domingo, 2 de setembro de 2007

A verdade sobre o infarto súbito nos esportes

Muito tem se falado recentemente sobre os casos de parada cardio-respiratória ocorridos em atletas de futebol, ocorridos em centros de primeiro mundo como Itália e Israel, resultantes de falência cardíaca súbita, sem precedentes anteriores. Algumas colocações são acertadas, enquanto outras fogem totalmente do conhecimento atual sobre tal assunto, levando o assunto a uma abordagem errônea, baseada em conceitos arcaicos e já proscritos. O ruim é que alguns destes são veiculados até em jornais de grande tiragem. Um absurdo!!! Pra não dizer outra coisa!!!
Hoje é mundialmente discutido em Congressos e encontros que reunem especialistas em Medicina Desportiva, assim como cardiologistas, clínicos gerais, cirurgiões, ortopedistas, dentre outros, a gênese de tal problema, visando seu maior entendimento e consenso de acordo com os mais diferentes pontos de visão, das mais diferentes especialidades médicas, todas ligadas entre si peli esporte.
Sabemos, com base em tudo que é discutido e divulgado, que nos dias atuais os atletas são submetidos cada vez mais a uma carga excessiva de exercícios físicos, muitas vezes por sua própria vontade, a fim de obter resultados cada vez melhores, dentro de suas modalidades, obedecendo a máxima de que não hã vitória sem sofrimento.
Com esse intuito, alguns lançam mão de meios nem sempre corretos, como o uso de drogas anabolizantes sintéticas, que num curto espaço de tempo proporcionam o nível atlético esperado, porém deixam sequelas graves, como insuficiência cardíaca grave, com picos hipertensivos e falência do músculo cardíaco (miocárdio), podendo levar ao infarto e morte súbita.
Porém, mesmo no caso em que não há essa relação, temos o excesso de carga de trabalho específica, que faz com que o coração, um órgão tão importante e funcionante graças a um estímulo elétrico ritmado do próprio organismo, sofra um colapso por estresse excessivo, com decréscimo de sua vascularização e perfusão, resultando em hipóxia, isquemia e necrose do músculo, que leva à parada cárdio-respiratória e morte. Nem sempre existem alterações perceptíveis aos exames normais de rotina, o que faz com que alterações possam ser subavaliadas e o prognóstico reservado.
É difícil imaginar que centros altamente desenvolvidos como a Itália sejam balançados por tais acontecimentos, ainda mais com Clubes de Futebol altamente profissionalizados como o Sevilla, nos acontecimentos atuais. É mais comum pensarmos que isso só ocorreria em áreas subdesenvolvidas, com péssimas condições de trabalho aos médicos e demais profissionais envolvidos na área, como aqui no nosso esporte, onde nenhum dos exames de rotina é feito, com a desculpa de que não há potencial financeiro, enquanto sabemos que na maioria dos casos é descaso mesmo!!!
A verdade é que o atleta, teoricamente goza de uma saúde perfeita, sem quaisquer antecedentes patológicos e sem exposição a fatores de risco como hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, dentre outros, o que faz com que sua rede vascular que nutre o coração, tendo como base as artérias carótidas, salvo por alguma mal-formação, não tenham o que chamamos de rede vascular acessória, extremamente importante por desviar o fluxo sanguíneo conseguindo nutrir áreas acometidas por uma possível obstrução súbita. Tal rede vascular é comum em idosos e pessoas com história de comorbidades, o que faz com que o índice nessas pessoas de mal súbito seja muito menor. Como não existe no atleta essa rede acessória, qualquer obstrução resulta em grande falência do miocárdio, quase sempre mortal, dependendo apenas do grau de obstrução.
Então, muitas vezes, nós médicos envolvidos na área, podemos sim passar pela situação de sermos acusados de negligência e descaso nesses casos, como os colegas do Sevilla, porém antes é preciso que se estude o caso e que se entenda a situação, para que não se cometa injustiça, como pode ser esse o caso.
E pelo amor de Deus,vamos parar com essa história de cáries dentárias... não existe mais espaço para isso!!!

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